29 Mar 2022, 0:00
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Kremlin desmentiu, Kiev desvalorizou mas o governo britânico diz que "as suspeitas de envenenamento de Abramovich "são muito preocupantes". Oligarca esteve esta terça-feira nas negociações de paz.
Governo britânico manifestou esta terça-feira preocupação com notícias de que o magnata russo Roman Abramovich pode ter sido envenenado enquanto participava nas negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia no início de março. Isto apesar de o governo ucraniano ter falado em “especulações” e o Kremlin ter desmentido.
Num comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico disse que “as alegações são muito preocupantes”.
O portal de investigação jornalística Bellingcat noticiou na segunda-feira que Abramovich e dois delegados ucranianos tinham sofrido sintomas de envenenamento por um agente neurotóxico depois de participar das negociações de paz entre Moscovo e Kiev em 3 de março.
Abramovich, cujo papel exato nas negociações não foi confirmado, recuperou, entretanto, dos sintomas.
Um investigador do Bellingcat disse que a dose não era letal e a explicação “mais plausível” para o suposto ataque é que foi um aviso para Abramovich e para outros magnatas russos que potencialmente possam vir a intervir nas conversações.
“Ele ofereceu-se para desempenhar (…) esse papel de mediador, mas outros oligarcas (…) declararam uma certa independência da posição do Kremlin e criticaram a guerra“, disse um investigador do site jornalístico, Christo Grozev, à Times Radio.
“Portanto, pode muito bem ser visto como um aviso para não se juntarem às fileiras daqueles que discordam e não serem mediadores“, acrescentou.
Moscovo negou o incidente, tendo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, respondido esta terça-feira que a alegação “faz parte da guerra de informação” contra a Rússia e que “esta informação não corresponde, obviamente, à realidade”.
Também Mykhailo Podolyak, conselheiro presidencial de Zelensky, disse esta terça-feira, a propósito das suspeitas de envenenamento de Abramovich, que existe “muita especulação e várias teorias da conspiração”.
De acordo com a Reuters, Rustem Umerov, outro membro da delegação ucraniana que está esta terça-feira nas conversações que decorrem na Turquia, sublinhou que as pessoas não devem confiar em “informação não verificada”.
No mesmo sentido tinha ido o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano: “Todas estas histórias – alguém ouviu alguma coisa em algum lado, algumas fontes – agora há muitas coisas deste género, porque toda a gente está sedenta por notícias, por sensações.” No entanto, não deixou de recomendar os negociadores a não comer nem beber nada quando em conversações com os russos.
Por outro lado, Peskov confirmou que Abramovich, que também tem nacionalidade portuguesa, está presente nas negociações russo-ucranianas que começaram esta terça-feira em Istambul, na Turquia.
“Abramovich desempenha um papel no estabelecimento de contactos entre os lados russo e ucraniano“, disse, embora tenha salientado que “ele não é um membro oficial” da delegação russa liderada pelo ex-ministro da Cultura Vladimir Medinski.
Abramovich, dono do clube de futebol londrino Chelsea, é um dos vários oligarcas russos com ativos congelados no Reino Unido e na União Europeia (UE), uma vez que Londres e Bruxelas consideram que ele e outros magnatas russos têm relações com o regime do Presidente russo, Vladimir Putin.