23 Apr 2022, 0:00
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A escritora canadiana Margaret Atwood recebeu o título de doutora honoris causa pela Universidade do Porto.
A escritora canadiana agradeceu à Universidade do Porto pelo doutoramento Honoris Causa da instituição. Margaret Atwood é a centésima pessoa agraciada com a distinção da academia portuense.
A escritora canadiana Margaret Atwood agradeceu, na sexta-feira, à Universidade do Porto (UP) a "memória maravilhosa" de receber um doutoramento Honoris Causa da instituição, sendo a centésima pessoa agraciada com a distinção da academia portuense.
"Muito obrigada à Universidade do Porto por este doutoramento”, disse, em português, numa curta declaração de agradecimento, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto.
Após o reitor da UP, António de Sousa Pereira, ter anunciado a imposição do título de Doutora Honoris Causa, Margaret Atwood, de 82 anos, afirmou em inglês que o dia de hoje constituiu “uma grande honra e prazer”.
"O Porto é uma cidade maravilhosa e muito bonita, e eu gostei muito das minhas visitas a ela. Obrigada por esta memória maravilhosa”, prosseguiu, passando depois à leitura do poema “The Moment”.
O elogio foi proferido pelo escritor argentino-canadiano Alberto Manguel, radicado em Portugal, que, durante cerca de 30 minutos, dissertou sobre a obra da escritora.
“Da sua experiência da natureza em estado selvagem, e das suas primeiras leituras de contos de fadas e romances policiais, Atwood construiu a paisagem da futura geografia da sua imaginação”, afirmou o escritor, num discurso em português.
De acordo com Alberto Manguel, “a questão da identidade é central na obra de Atwood. ‘Quem ou eu?’ e ‘quem somos nós?’ surgem repetidamente nos seus textos, sob mil e uma formas”.
“Neste jogo de espelhos que se deslocam, emerge a cada passo uma identidade mais profunda, mais complexa, mais intrigante”, considerou, num ato de uma “cartografia da experiência pessoal transmutada em estória”, estando “a autora transmigrada em ‘era uma vez'”.
Alberto Manguel associou depois a identidade de Margaret Atwood à do Canadá.
“A identidade da autora entrelaça-se, pelo menos do início, com a identidade do país. A velha piada sobre o Canadá, um país com geografia a mais e história a menos, é tomada como um desafio em ‘Survival'”, referiu.
Nas palavras do autor do elogio da cerimónia de hoje, Margaret Atwood “exige que o leitor curioso preste atenção às estratégias de sobrevivência que o Canadá exigiu e ainda exige do seu povo”.
Referindo que a autora “dispôs-se, há mais de 50 anos, a construir uma consciência cultural do Canadá”, alicerçada na “presença constante da heroína, vítima, protagonista” na sua obra, Alberto Manguel mencionou também as “estratégias de sobrevivência das suas personagens, quase todas mulheres”.
O autor deu como o exemplo “Chamavam-lhe Grace”, contando que a personagem homónima “é a imagem invertida dos homens no poder”.
“Condenada pelo seu excesso, pela sua pobreza, pelo seu sangue irlandês, nas vésperas de Grande Fome, vai para o Alto Canadá para descobrir que a única arma ao seu alcance para fugir à labuta diária é a sua paixão, e ela brande-a com uma navalha”, apontou.
Até 1978, quando lançou o primeiro livro para os mais novos, "No alto da árvore", Margaret Atwood tinha editado sobretudo poesia e os romances "The edible woman", "Surfacing" e "Senhora Oráculo", antecedendo a década em que começou a ter maior reconhecimento internacional.
Em Portugal estão publicados, em várias editoras, obras como "A história de uma serva", "Senhora Oráculo", "O ano do dilúvio", "A odisseia de Penélope" e a coletânea de poesia "Afectuosamente".
A autora do livro que deu origem à série "a História de uma Serva" e ativista dos Direitos Humanos diz que a Ucrânia está a agir bem perante o totalitarismo de Vladimir Putin.
Aos 83 anos, Margaret Atwood continua a escrever sobre as injustiças do mundo, os valores da sociedade e principalmente sobre mulheres.