31 Jul 2022, 0:00
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Um associado próximo do primeiro-ministro Viktor Orban renunciou, depois que o líder disse, num discurso recente, que a Hungria estava a lutar contra a Europa ao se tornar uma sociedade de “raça mista”
O primeiro-ministro húngaro de extrema-direita Orban denuncia 'mistura de raças' europeias, provocando indignação.
Discursando na Romênia, o líder da Hungria afirma que os países europeus com alto nível de mistura interracial 'não são mais nações'; oponentes o rotulam de 'delirante e perigoso'
O líder conservador da Hungria, Viktor Orban, denunciou a "mistura" de raças num discurso controverso, no sábado, que gerou reação.
Falando na Romênia, o primeiro-ministro húngaro defendeu sua visão de uma “raça húngara não misturada” ao criticar a “mistura” com não-europeus, informou o The Guardian.
“Nós [húngaros] não somos mestiços e também não queremos nos tornar mestiços”, disse Orban.
Orban afirmou que os países europeus que têm um alto nível de mistura interracial “não são mais nações”.
Os comentários são consistentes com a posição de extrema-direita de longa data de Orban sobre a imigração para a Hungria. Ele tem feito campanha regularmente com a promessa de construir uma Hungria “iliberal” baseada na “defesa de uma Europa cristã”.
Alin Mituta, um membro romeno do Parlamento Europeu, respondeu aos comentários de Orban num tweet, escrevendo que “falar sobre raça ou ‘pureza’ étnica, especialmente numa região tão mista como a Europa Central e Oriental é puramente delirante e perigoso. E o Sr. Orban também.
A posição de Orban sobre "mistura de raças" é contra valores da UE diz von der Leyen
Posição de Orban sobre "mistura de raças" é contra valores da UE diz von der Leyen
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, advertiu, este sábado, que a "discriminação racial" é contra os valores da UE, respondendo a uma pergunta sobre os comentários do primeiro-ministro Viktor Orban contra a "mistura de raças".
Sem condenar explicitamente as declarações do líder nacionalista húngaro Viktor Orban, que suscitaram a indignação, em particular, de Washington, Ursula Von der Leyen recordou numa entrevista publicada no site de notícias eslovaco aktuality.sk, referindo que "todos os Estados-membros da UE, incluindo a Hungria, subscreveram valores comuns" universais que são "não negociáveis".
E prosseguiu: "Discriminar com base na raça é atropelar esses valores" consagrados nos tratados europeus e internacionais.
"A União Europeia é fundada na igualdade, tolerância, equidade e justiça", acrescentou a líder europeia.
A Comissão Europeia não reagiu publicamente, até agora, às declarações de Viktor Orban.
Na terça-feira, um porta-voz da Comissão Europeia questionado pelos média disse que a Comissão "nunca comentou as observações feitas pelos líderes políticos europeus".
As palavras do líder húngaro provocaram a demissão de um de seus assessores, que denunciou tratar-se de um "texto nazi puro", a reprovação do Chanceler da Áustria, Karl Nehammer, e mereceram uma condenação do Comité Internacional de Auschwitz, "horrorizado" com o discurso.
Os presidentes dos principais grupos políticos do Parlamento Europeu, numa declaração adotada na noite de sexta-feira, "condenaram veementemente as declarações abertamente racistas" do primeiro-ministro húngaro e exortaram "a Comissão e o Conselho - em representação dos Estados-Membros - a condenarem urgentemente as declarações, em termos veementes"
Num discurso realizado a 23 de julho deste ano, Viktor Orban rejeitou a visão de uma sociedade "multiétnica".
"Não queremos ser mestiços ao misturarmo-nos com não-europeus", declarou o líder nacionalista e ultraconservador, cuja política anti-imigrantes foi condenada por diversas vezes pela justiça europeia.
Na quarta-feira, sem citar Orban, o vice-presidente do executivo europeu Frans Timmermans reagiu na rede social Twitter, criticando o racismo, "uma invenção política tóxica" que "não deveria ter lugar na Europa".
A Hungria de Orban está na mira de Bruxelas devido a uma recente lei anti-LGBT e há vários anos por deficiências no Estado de Direito, nomeadamente, ataques à independência judicial e ao pluralismo dos média e a luta insuficiente contra a corrupção.
Estes problemas, ligados à corrupção e às condições com que são adjudicados os contratos públicos no país, levaram Bruxelas, nomeadamente, a bloquear até agora a aprovação do plano de recuperação pós-covid de Budapeste, no montante de 5,8 mil milhões de euros em subsídios.