28 Nov 2022, 0:00
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Filipe Araújo tem 46 anos, é vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, fiel escudeiro de Rui Moreira, vereador do pelouro do Ambiente e Transição Climática e da Inovação e Transição Digital. A partir deste sábado, passa também a ser o presidente da associação cívica “Porto, o Nosso Movimento”, o 'braço-armado' da política independente da cidade, criado a 6 de dezembro de 2017, por um grupo de cidadãos que deu a vitória a Moreira nas autárquicas daquele ano.
Araújo é uma figura pouco conhecida do grande público, mais habituado ao trabalho 'de sapa' do que a manifestos eleitorais ou às grandes afirmações políticas.
O Porto era diferente nos anos 90. Filipe Araújo, com 14 anos, passava a vida entre a Sidónio Pais, onde morou desde sempre, e a escola – primeiro o Colégio do Rosário, depois o Garcia de Horta e finalmente o Fontes Pereira de Melo. Ia a pé ou de bicicleta para todo o lado, tinha um grupo de amigos para jogar à bola na rua e usava os ramos das árvores como bancos para conversar. Custa acreditar que uma das principais vias de entrada no Porto permitia descanso de trânsito suficiente para brincadeiras de crianças. “O Porto era diferente nos anos 90”, garante Filipe Araújo. Depois convenceu os pais a comprarem uma Vespa azul, que tem ainda hoje, “bem guardada numa garagem dos pais para não dar más influências aos meus filhos”.
“Filiei-me nessa altura na JSD. Tinha o meu grupo de amigos, falávamos das mesmas coisas. Não nos considerávamos de direita. Centro-direita talvez”, explica Araújo. “Depois, na faculdade, na FEUP, havia muito a questão de ‘para onde vamos trabalhar?’. A verdade é que havia, se calhar, duas grandes empresas na área. Numa cidade como o Porto, isso era incompreensível”. Foi essa frustração e vontade de debater a cidade que levou Filipa Araújo a participar em comissões políticas, a ser deputado à Assembleia de Freguesia de Ramalde, a juntar-se a “mil e um grupos” de discussão. “Todos nós, daquela geração, queríamos acordar o Porto”.
A vida foi passando, conciliada entre a família, a Telecel (agora Vodafone), e alguns cargos políticos de pouca montra nas estruturas locais do PSD e na Assembleia Municipal. Em 2013, surge Rui Moreira (e Luís Filipe Menezes) na sua vida.
Acaba-se o mandato de Rui Rio, aparece Luís Filipe Menezes vindo de Gaia, e estala a confusão na horda social-democrata. Entre lutas fratricidas, Filipe Araújo desvincula-se do PSD e junta-se a um movimento de cidadãos independentes que patrocinam um candidato bem conhecido da cidade, mas a trilhar os primeiros caminhos na política – o na altura presidente da Associação Comercial do Porto, Rui Moreira.
A campanha autárquica faz-se dura, entalada entre Menezes e Manuel Pizarro, com um empurrão de Rio. A vitória do “Rui Moreira: Porto, o nosso Partido” atira Araújo para o pelouro da Inovação e Ambiente, naquela que seria a primeira experiência num executivo autárquico. Em 2017, após a coligação e divórcio entre os independentes e o PS de Manuel Pizarro, salta para vice-presidente, sucedendo a Guilhermina Rego, herança deixada por Rio e que saíra para assumir a presidência da Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL).
Depois das eleições de 2017, quatro destacados membros do movimento de Rui Moreira – Nuno Santos, Miguel Pereira Leite, Francisco Ramos e Luís Valente de Oliveira – juntam-se ao edil para criar a associação cívica “Porto, o Nosso Movimento”. O objetivo, explica um dos fundadores, era construir um “proto-partido que sustentasse Rui Moreira, mantivesse agregados os eleitores, os apoiantes”. Basicamente, que não deixasse fugir a massa crítica e dinâmica, criar estruturas e bases para nova campanha autárquica em 2021.
Filipe Araújo — é cada vez mais claro — goza de um estatuto invulgar dentro do movimento de Rui Moreira. É visto como correto, honesto, muito preparado, um “geek do ambiente” e genuinamente preocupado com a qualidade de vida da cidade. Esteve pessoalmente envolvido na revolução da gestão dos resíduos sólidos urbanos do Porto e no projeto de reciclagem, foi com ele que se reabilitou o parque de São Roque, se criou o parque da Asprela e se concluiu a última fase do Parque da Cidade. Foi o próprio que insistiu na substituição total da frota municipal por carros elétricos. Mas parece ser difícil encontrar, entre colegas ou opositores, quem lhe gabe os discursos, o carisma ou a intuição política. “É um ótimo vereador, penso que seria um presidente sofrível”, resume um membro do movimento independente, ao Porto Canal.