16 May 2022, 0:00
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Por Joaquim Jorge*
Quando se tira uns dias de descanso, como estes na Páscoa dá para pensar na nossa vida.
O Algarve estava cheio e as praias também. Às vezes, páro, por uns instantes, a pensar que não há crise nenhuma e as pessoas vivem muito bem, com bons carros, boas roupas, bons restaurantes, frequentam locais caros, etc. Mas com toda a certeza não passa de uma bolha de pessoas, ou pagam com cartão de crédito e depois vê-se.
Uma coisa que me tenho apercebido com a idade quando saio de minha casa para descansar uns dias, as rotinas são quebradas e o dia parece que tem mais horas, o que não deixa de ser agradável.
O tempo passa mais devagar, por outro lado, tenho disponibilidade para ver as coisas com outros olhos. Parece que vivo noutro mundo (o nosso antigo), vou menos vezes ao telemóvel, às redes sociais e aos e-mails. Fico com a sensação que me desliguei do mundo e que o deixo de levar às costas. Ao deixar de ser e estar tão acessível, sinto uma perturbante serenidade.
Dou, por mim, a olhar para o que me rodeia e a tornar-me um pouco coscuvilheiro, observar as pessoas: com quem estão, a roupa que trazem, em que carro vieram, o que estão a fazer.
Não deixo de pensar como seria importante trabalhar menos e ter tempo para não fazer nada, para começar a fazer o que gostamos. Claro que penso em ter dinheiro – a mãe de grande parte da solução dos nossos problemas.
Como seria bom ter outra vida, ter outros projectos e ambições. Porém, há pessoas que estão em paz com o que têm e com o que não têm. Isso é invejável!
Com a idade, para além das dificuldades que se sentem connosco próprios: dores; não se conseguir fazer o que se fazia; deitar mais cedo; gostar imenso de comer e não se poder; falar-se em tensão arterial, colesterol e diabetes. Em vez de irmos a um bar, passamos a ir à farmácia.
A nossa vida passa também por olhar pelos nossos pais, quem tem a felicidade de os ter vivos, tornando a nossa vida um pouco geriátrica.
Todavia, continuo a gostar de sonhar e de viver, ainda não perdi a ideia de voltar a ter um carro descapotável. Eu sei que posso apanhar uma pneumonia ( risos) , mas não há nada como tentar para ver.
Temos que afrontar a vida como se fosse um jogo sem fim e descansar.
*Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores