16 Nov 2022, 0:00
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O presidente do PS veio a terreiro defender o primeiro-ministro contra o ex-governador do Banco de Portugal, rejeitando que houve da parte de António Costa qualquer "intromissão" ou "pressão ilegítima" para beneficiar a antiga administradora do BIC, com Carlos Carlos César a ressalvar que se compreende que tenha havido "cuidado" do Governo face ao "desfecho" que os dossiês bancários estavam a ter e que podiam "ser prejudicados por qualquer precipitação".
Carlos César não poupa nas palavras e acusa o ex-governador do Bando de Portugal (BdP) de "despeito a mais e sentido de Estado a menos " no caso que opõe Carlos Costa ao primeiro-ministro, na sequência de uma alegada pressão de António Costa para beneficiar a antiga administradora do banco BIC, Isabel dos Santos.
Numa publicação na rede social Facebook, o presidente do PS vem defender o primeiro-ministro, mas não desmente que António Costa tenha alertado o então governador sobre as desvantagens da saída da filha do antigo presidente de Angola José Eduardo dos Santos da administração do banco.
César considera que se "compreende o cuidado que devia ser usado, face à definição de prioridades, naquele momento, no âmbito da melhor solução dos dossiers bancários que, simultaneamente, estavam a conhecer um desfecho e que podiam ser prejudicados por qualquer precipitação".
Ora, o presidente do PS não desmente que o contacto de António Costa a Carlos Costa tenha existido, mas enquadra-o numa possibilidade que teve um contexto e uma razão de ser, recusando qualquer "pressão ilegítima".
No texto, César atira ainda aos partidos da oposição, tendo sobretudo o PSD na mira. "Ao contrário do que insinuam ou explicitamente mencionaram os protagonistas da agenda política em curso da oposição, a independência de uma instituição como o Banco de Portugal não é salvaguardada e muito menos consolidada através da exclusão do diálogo e de uma interlocução com outros órgãos e instâncias, designadamente com o Governo".
É, sobretudo, recusado por César qualquer benefício de Antóno Costa a Isabel dos Santos, até tendo em conta decisões anteriores do próprio primeiro-ministro.
"Ao contrário do que esses sectores insinuam, não há, nem houve, como todas as pessoas de bem reconhecerão, qualquer espécie de cumplicidade ou sequer permissividade do Primeiro-Ministro ou do PS face à então acionista do BIC. António Costa quis proteger Isabel dos Santos? Mas não foi o Governo de António Costa que aprovou um Decreto-lei que permitiu ao BPI libertar-se de Isabel dos Santos?! Foi!", conclui César.
César aproveita ainda para acusar que "pressões políticas então faladas e, pelos vistos, bem-sucedidas, foram as que levaram Carlos Costa a impedir a nomeação do Professor Mário Centeno para Diretor do Gabinete de Estudos do Banco de Portugal".
No texto César refere que a relação entre o agora ex-governador do BdP e o primeiro-ministro devia ser pautada pelo recato. "Em Portugal, como em qualquer outro país com um ordenamento semelhante de separação de poderes, qualquer das partes, envolvidas agora neste litígio, podiam, e, sobretudo, deviam, trocar informações e opiniões, especialmente com a reserva adequada".
O facto de existir essa troca de informações entre as duas instituições é visto, de resto, como natural. "A independência e o relacionamento entre essas instituições em nada me parece beliscada por isso. Pelo contrário, o sentido da divulgação do seu detalhe, usado por Carlos Costa, é que me parece desrespeitoso e não contribuir para a verdade e a contextualidade histórica dos assuntos em causa".
Isto resulta, conclui César, na "ideia de que há despeito a mais e sentido de Estado a menos por parte do antigo governador que, como se sabe, saiu do cargo sem grandes elogios".